domingo, 27 de junho de 2010

Anos Caetânicos

Anos Caetânicos

Sempre gostei de escrever. Os circuitos pontuados no meu caminho sempre se fizeram pela escrita. Lembro de quando criança gostava de registrar as festas, os bailes num papel como se estivesse escrevendo uma coluna social. Tudo sempre foi engavetado e, algumas vezes, rasgado em pedacinhos que saíam voando fora do meu caminho. Escrevia pra me salvar e me acolher. A tristeza sempre roubando a cena dos momentos alegres. Como só me fosse permitido rabiscar e desenhar as perdas, a fragilidade, a incompreensão da vida. Hoje não. Hoje consigo perceber que todas as minhas andanças na vida são histórias que podem e devem ser contadas.

A fase de paixão por Caetano Veloso a partir dos festivais e do movimento Tropicália foi muito intensa. Ainda me vejo atravessando o jardim São João em Niterói entrando numa pequena loja de discos e comprando aquele vinil (Tropicália) como se fosse uma jóia, uma aquisição preciosa. Saí da loja atracada com ele, num andar firme, rico, poderoso, dona de mim. Aquilo era ser feliz. Chegar em casa, sentar e só ouvir. Ouvir e me arrepiar. Decorar as letras, absorver as melodias... Eu, achando Caetano o homem mais lindo do mundo. O sorriso... Ah, como gosto de sorrisos. Acho que há certas pessoas que não precisam de mais nada a não ser o próprio sorriso. Caetano era assim. Só precisava estar vestido de sorriso. Achava suas roupas lindas, ousadas, a cara de tudo o que eu queria ser... Meus amigos achavam estranha essa paixão. Alguns até desaprovavam. Mas em relação a música ninguém nunca conseguiu me desviar da minha sensibilidade genuína, minha, muito minha.

Assistir um show do Caetano era sempre um êxtase. Uma vez entrei no camarim do Thereza Rachel, falei com ele, entreguei uma música que havia feito e disse: “Se não gostar pode destruir.” Ao que ele me respondeu naquela voz mansa: “Não sei não. Eu não sou de destruir as coisas não.” Essa fala ficou martelando na minha cabeça e gerou um trecho de uma canção que compus.

Quando estava grávida do meu primeiro filho Alexandre, que por sinal é um excelente músico, entrei correndo assim que as portas do teatro se abriram para o show. Tudo isso pra sentar na primeira fila. Esse show assisti duas vezes. Na segunda vez fui com Paulinho (meu amigo até hoje) e nesse dia teve participação especial de Chico Buarque. Tirei muitas fotos e ao final do show eu e Paulinho subimos no palco, pegamos o copo com um restinho de uísque do Chico, bebemos, guardamos a relíquia (que tenho até hoje) e invadimos o camarim. Falamos com Chico, Miúcha, Caetano, pegamos autógrafo e, quando já estávamos saindo, Nisso, uma louca que andava com a gente lascou um selinho no Caetano. Ele foi pego de surpresa e ficou sem ação. Saí de lá rindo, mas no fundo com muita inveja da louca, de não ter feito a mesma coisa. Hoje me lembro disso tudo com muito orgulho por ter podido viver o brilho dessa época. Uma época que, de certa forma, ainda faz parte do meu jeito, do meu andar, do meu dizer... Uma época. Caetânica. Simplesmente Caetânica...



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