quarta-feira, 16 de junho de 2010

Da missa para a Banda


Da missa para a Banda



Era um rapaz simples, despojado de vaidades, desses que a gente vê na rua e identifica como vendedor de enciclopédia ou crente fervoroso. Seu nome tão simples quanto seu jeito de ser. de ir e vir: Inácio.

Não tinha muitos amigos. A não ser os colegas de trabalho da loja de tecidos na Rua da Alfândega. Não passavam de meros colegas, visto que os programas de fim de semana nunca se encaixavam nos seus desejos. A turma já começava a se reunir sábado após o expediente no pagode da esquina regado a churrasquinho e muita cerveja. Inácio não bebia e a única multidão que gostava era a da missa.

Naquele dia, quase véspera de carnaval, ele foi entregar uma encomenda em Ipanema e acabou entrando na igreja pra assistir á missa. Fervoroso que era passou a celebração inteira ajoelhado e tomado por muita emoção. Comungou, cantou todos os hinos e saiu dali de alma lavada e pura.

Ao botar os pés do lado de fora Inácio foi tomado por uma grande surppresa. Deu de cara com a Banda de Ipanema com todas as suas cores e loucuras possíveis. Isabelita dos Patins deslizava coloridamente de um lado pro outro, enquanto purpurinas e paetês subiam aos céus levadas pelo movimento energético daquele grupo.

Inácio, paralisado, não sabia se entrava ou saía. Nessa indecisão foi tomado por um arrepio frio que lhe subia pelos pés, pelas pernas, ganhando força nas genitais e subindo como um vulcão pelo peito.

Inácio explodiu. Arrancou a camisa, abriu o cinto, tirou as calças, amarrou a camisa na cabeça, jogou os sapatos e as meias para o alto e saiu dançando feito louco no meio daquela gente...

Dançou, rebolou, entrou em êxtase, gritou, suou, extravasou...

Uma chuva de verão começou a cair. Inácio se jogou no chão, abriu os braços e deixou que aquela chuva perpassasse sua alma até o gozo da morte, da vida... Inácio voou.


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