terça-feira, 25 de maio de 2010


O ônibus não estava cheio. Me espreguicei, cruzei as pernas e, num gesto ansioso abri o livro. Até que um chorinho de bebê desvia meu olhar para a cena de uma jovem mãe alimentando sua cria. Me chama a atenção a alternância de mensagens e tons de voz dessa figura materna. Uma mistura de “é feio colocar a mão na boca, mamãe já falou, não quero isso...” com “que papinha mais gostosa, neném...”, numa turbulência de intenções totalmente incoerentes para uma pessoinha tão indefesa. Pensar num bebê que recebe tudo sensorialmente tendo que lidar com estímulos tão ambivalentes... Certamente sua história de vida será pautada por muitas dessas incompreensões.

Tive vontade de dizer àquela mãe o quanto um bebê precisa sugar, sujar, morder... Tive vontade, mas não disse. Tive vontade de dizer o quanto é difícil acertar mesmo apostando em toda capacidade de amar. Tive vontade de falar sobre meus erros, minhas incoerências. Olhei com carinho para a criança e pensei no quanto é fácil observar e julgar o outro.

Coloquei uma bala na boca como se quisesse abafar historias presas na garganta, retomei o livro e li até chegar ao meu destino. Peguei minha mala, olhei para a moça, o bebê e, tudo que pude fazer foi pegar suas bolsas, levar até o desembarque e desejar muita saúde e sorte para aquela criança.

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